Uma cena que por muito tempo será difícil de ser esquecida. Assim pode ser definida a vitória de Simão Romão no seu quintal, debaixo de aplausos da galera e até algumas lágrimas.
Tudo começou há dois anos atrás. Com um sonho. Um sonho que foi realizado. Com muito suor e muito surf.
Tudo começou há dois anos atrás. Com um sonho. Um sonho que foi realizado. Com muito suor e muito surf.
“ Eu tive um sonho, cara...há mais ou menos uns dois anos atrás...já até comentei com alguns amigos. No sonho tava tendo um campeonato no Arpoador, um campeonato importante,eu não sei qual era, a praia tava cheia... Eu ganhei esse campeonato e fui lá na pedra e fiz isso que eu fiz. Ainda não caiu a ficha. É incrível você sonhar e depois acontecer...”
E o que ele fez foi mais incrível ainda. Um pouco nervoso nas primeiras baterias ( “Eu sempre fico nervoso na primeira, é normal...”), Simão foi evoluindo a medida que ia avançado no campeonato, e como já era de casa, foi um anfitrião perfeito e proporcionou um show para seus convidados.
Na primeira bateria das quartas de final, contra Bernardo Pigmeu, Simão já estava à vontade. E Até demais.
“ Vou fazer meu surf, eu pensei. Esperei oito minutos, peguei ela lá fora, saí rasgando e vim fazendo...ela abriu toda, não tinha nem como...só vim surfando...”, fala ele modestamente sobre seu 9,17 na primeira onda surfada da bateria.
“ No começo do ano no Super Surf lá na Joaquina, eu tinha um 9,80 e mesmo assim perdi pro Leandrinho (Bastos), então eu procurei ficar tranqüilo, mas não tanto...Tem que ser sangue-frio ao extremo, respirar fundo e esperar a boa...”
Sobre o uso da prioridade, escolhendo ondas que poderiam ser boas para o Bernardo e impedindo-o de virar a bateria, ele comenta:
“ Eu ficava esperando sair as notas dele pra saber se precisava pegar outra onda ou não. Como eu tava na frente e ainda tinha a prioridade, eu fiquei esperando a onda certa, por que aí eu ia acabar com a bateria. E foi o que eu fiz.”
Nas semi, Romão enfrentou outro brasileiro, o único além dele ainda na competição, Williamsita Cardoso, numa bateria muito difícil e disputada, onde as séries estavam mais esparsas e, faltando apenas um minuto, William Cardoso liderava a bateria, deixando Simão precisando de uma nota acima de 6.Veio uma onda lá no costão, Simão mostrou que conhece seu pico e virou,vencendo por uma diferença de apenas 10 décimos.
Sobre a onda salvadora ele fala:
“ Com certeza foi Deus...É aniversário do meu pai hoje...é por ele e pelo meu filho.”
Com essa vitória, Simão já trocava seu pior resultado, 750 pontos, trocando por 1300 e indo a 10.300 pontos, ficando, no ranking, atrás do também brasileiro Hizunomê Bettero, que está na décima-primeira colocação.
O sul-africano Greg Emslie e o tahitiano Michel Bourez fizeram a outra semi final.
Ganhando um ou outro a batalha de Simão não seria nada fácil. Greg Emslie passou dando show, com uma onda 8 e uma 8,5. Pedra no caminho do local Simão.
Havia uma pedra no meio do caminho, e ela tinha o carimbo do WCT. Mas ele não quis nem saber.
“ Vai ser difícil enfrentar o Simão. Ele é um garoto local, tem um surf muito bom... Essa final, aqui no Arpoador, vai ser realmente boa de ser disputada.” comentava Greg sobre esta final, que realmente foi um clássico para o surf brasileiro.
E estava do jeito que o Simão gosta. Arpex lotado, domingo de sol, ele dominando o pico. Local máximo.
Me desculpe Greg,sem localismos. Mas neste domingo você era haole.
Os garotos do Favela Surf Club, sentados na ponta da pedra faziam barulho para o Simão. Seu técnico fazia barulho. A torcida incendiava a cada manobra. E ele contagiado vinha no ritmo desta batida. Das palmas, dos gritos, da energia. Jogando em casa, tudo a favor.
Mas ele enfrentava Greg Emslie, que não quis deixar a festa acontecer assim tão fácil e virou a bateria faltando seis minutos pro final. Mesmo com pouco tempo Simão ainda conseguiu surfar mais duas boas ondas, virando na primeira e aumentando a diferença na segunda.
Faltando uns vinte segundos para o término, o horizonte liso, Simão vira o bico para o outside e começa a remar, sem ninguém entender o que ele ia fazer. Ele escala a ponta da pedra, onde estavam os meninos do Cantagalo e vai pro pico mais alto, levanta sua prancha e grita.
Um grito de vitória. Um grito de desabafo. Um grito de um surfista que nasceu naquele pico e que passou por muitas adversidades para chegar até aqui. Um grito de um surfista que é desacreditado por alguns, mas que é admirado por muitos. Um grito que estava preso, e planejado há dois anos.
Essa vitória foi a vitória daqueles que acreditam. No Simão, no surf carioca, no Arpoador e na força de um sonho.
“ Eu fiz igual no meu sonho. Venci, fui lá e fiz!”, desabafa Simão, muito emocionado.” Quero dedicar essa vitória a meu pai, que tá fazendo aniversário hoje.”, fala ele mais uma vez, sempre agradecendo a Deus, à família e aos patrocinadores.
“ Todo mundo torcendo pra mim, é bom demais. Essa vibe me ajuda até na escolha das melhores ondas. É inacreditável viver isso.”
“ Mas não acabou. Está começando agora. Estou indo pras Canárias disputar o WQS 6 estrelas Prime e eu tenho que ralar muito se eu quiser entrar pro WCT.”
Sobre o confronto com Greg:
“ Eu já tinha feito uma bateria com ele, das oitavas de final, lá na casa dele, em Durban. Graças a Deus deu pra passar nós dois, ele em primeiro e eu em segundo.”
Depois da vitória, aquela festa. Simão sai carregado por amigo e surfistas e some no meio de um mar de gente.
“ Eu sabia que eu tinha surf para isso, eu só não esperava ganhar. Mas to em casa , o Arpoador é o meu lugar,isso aqui é meu. Da próxima vez, fala pro gringo ficar na casa dele...(risos)”
Direto do Arpeexx...
Fã do Simão Romão desde a época que ele era amador....
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