O dia era de Jano Belo. Com atuações impecáveis, desde as primeiras baterias do dia o surfista já vinha lançando mão de um arsenal de aéreos de backside e tubos impossíveis.
Deu Brasil X Hawaii na final do WQS. Um clássico do surf, disputado pelo paraibano Jano Belo e pelo havaiano Dustin Barca, atual 14º no Ranking mundial da divisão de acesso. Com um surf de alto nível, o brasileiro oprimiu o gringo desde os dez primeiros minutos de bateria, e não dando a menor chance de reação.
“ Eu não tenho nem palavas pra descrever essa sensação. É um dos dias mais felizes da minha vida. Eu acreditei no meu surf e só tenho a agradecer a Deus. Esse título fica aqui no Brasil!” fala o flamenguista Jano.
Desde a primeira bateria do dia, contra o catarinense Beto Mariano, Jano Belo já vinha dominando com facilidade tirando um tubo de backside já no início da bateria e imprimindo um ritmo muito forte. Foi um tubo muito cavado, onde ninguém acreditou quando ele saiu, já que a onda o tinha engolido completamente. Foi um bom começo. Na última onda da bateria ele, já classificado, completa um aéreo reverso e aumenta ainda mais a sua vantagem. Com este resultado Jano obteve a melhor média das oitavas, 14,83.
“ Eu dropei, de backside, quando vi, o tubo já estava rodando em cima da minha cabeça e a prancha deu uma desgarrada. Mas eu senti: pô, dá pra sair.. Aí eu dei aquela adiantada e a onda começou a ficar mais perfeita, o tubo tava bem deep. Quando eu vi a junção, senti que já tinha saído e foi só comemorar.”
Jano, que saiu do Rio para ter seu carro arrombado em Santa Catarina, num dos primeiros dias de competição, superou todas as adversidades, como a perda do seu equipamento, ainda comentou sobre o que o Beto Mariano havia dito a ele sobre o episódio.
“ Eu dei mole de ter parado o carro um pouco longe, acabei sendo roubado e fiquei muito chateado. O Beto me falou pra eu usar isso como motivação pra ganhar o campeonato, e acabou que a gente caiu na mesma bateria. Mas somos muito amigos, depois da bateria ele me disse: vai lá moleque, vai ser campeão!”
Nas quartas de final, quatro brasileiros e quatro gringos disputavam as quatro vagas das semi. Jádson André, mesmo mostrando um surf muito forte não consegue passar por um inspirado
Dustin Barca, que estava gostando muito do campeonato e da formação das ondas neste domingo.
“ Eu não estou no Hawaii, mas me sinto bastante confortável. As pessoas são bastante receptivas, e o mar hoje amanheceu mais “glassy” (limpo, com a onda mais lisa) e a expectativa é de bom surf e bastante diversão!” animava-se o havaiano Dustin.
Nesta bateria, Jádson ainda proporcionou um dos momentos mais radicais do evento. Ele, que havia buscado outro point-break, precisava de uma onda acima de 7 pontos para virar a bateria e num tudo ou nada arriscou um dos aéreos mais altos já vistos. Ele subiu numa altura de aproximadamente 2 metros de altura, vindo com uma velocidade absurda e jogando a prancha mais do que meio metro acima do lip, para delírio dos fãs das manobras mais modernas e radicais. No entanto, ele não conseguiu voltar e Dustin avançou por 13,83 a 12,67.
O japonês Masatoshi Ohno bateu o garoto-prodígio Halley Batista detentor das melhores nota e média do campeonato. Halley abriu a bateria com um belo aéreo de backside, usando bem o lip e manobrando com muita facilidade, no entanto, Masatoshi tem muita potência nas suas manobras e usa bastante a sua elasticidade, buscando sempre o ponto mais crítico da onda. Não dá chance para Halley, que se despede nesta fase e fica com a quinta colocação.
“ Estou bastante feliz de ter conseguido chegar até aqui e mesmo com tantos bons surfistas conseguir manter a melhor nota e o melhor somatório do campeonato é inacreditável!” comemorava o pernambucano Halley, bastante satisfeito com o resultado.
Masatoshi, que também vai disputar o WQS de Itamambuca estava bastante satisfeito com o seu resultado e com toda essa receptividade:
“ É incrível chegar no Brasil e ter pessoas torcendo por você e te incentivando. É uma sensação muito boa e isso se transmite para o meu surf.”
Márcio Farney papa mais uma bateria, desta vez contra o norte-americano Brett Simpson, atual 23º do Ranking do WQS. Posicionando-se sempre no mesmo pico, atrás das esquerdinhas, mais próximo ao canto do morcego. O norte-americano domina a bateria desde o início e faltando um minuto para o término o cearense consegue um 8,33 e consegue a vaga.
“ Foi uma bateria bem difícil, eu surfei poucas ondas. O mar mudou de ontem pra hoje, deu uma diminuída, e eu acreditei na esquerda que tá me salvando em todas as baterias. E eu estou com a prancha certa, é uma prancha muito boa, que tá andando muito em cima da água.” fala o surfista sobre sua Havenga preferida.
O último confronto das quartas foi um duelo entre amigos, Jano Belo e Adilton Mariano. Os dois são treinados por Robalinho, além de morarem próximos e sempre viajarem juntos.
“ Nessas horas a gente procura deixar a amizade fora d'água, por que senão é complicado. Eu sempre penso em fazer meu melhor surf, independente do adversário.” Palavras de Jano Belo, que estava muito focado para esta competição.
Numa das melhores baterias do dia, os dois vêm disputando manobra a manobra, com Jano Belo optando pelos tubos e Adilton buscando aéreos 360º.
E foi a vitória do surf clássico. Jano sai de outro tubo impossível já rasgando o lip da onda e invertendo o bico da prancha totalmente, conseguindo uma nota 8 e aumentando a sua vantagem sobre o amigo.
A primeira semi-final foi disputada por dois gringos: o havaiano Dustin Barca e o japonês Masatoshi Ohno, com vantagem para o Hawaii. Na segunda semi duelo de brasileiros: Marcio Farney contra Jano Belo.
Farney continua apostando no seu surf de explosão e obtém um 9,33, deixando Jano precisando de uma onda acima de 7. Ele consegue um 7,5 e um somatório melhor, já que Farney não consegue encaixar um segunda onda boa. Foi a vitória da regularidade. Mesmo não obtendo um high-score Jano Belo teve uma atuação mais consistente e foi para a final. E junto com ele o Brasil.
Assim como no futebol tem o Brasil X Argentina, no surf a rivalidade maior fica contra o Hawaii.
Dustin Barca, buscando a sua classificação no WCT, estava bastante confiante e já tenha até feito uns comentários do tipo: “ Brasil X Hawaii?? Com certeza esse título vai pro Hawaii!”
Dustin Barca, buscando a sua classificação no WCT, estava bastante confiante e já tenha até feito uns comentários do tipo: “ Brasil X Hawaii?? Com certeza esse título vai pro Hawaii!”
Não desta vez, Dustin.
Representando o Brasil com classe e abusando do estilo de seu surf, Jano Belo oprimiu o havaiano e dominou toda a bateria, já abrindo com uma nota 7 e depois obtendo mais duas ondas 7,5 e uma onda nota 8, o que aumentava ainda mais a sua vantagem. Desde os dez primeiros minutos de bateria Jano já havia deixado Dustin precisando de uma combinação, e mesmo com o havaiano obtendo um 6, 47 e reduzindo essa diferença, o brasileiro se impõe no pico, tendo uma excelente leitura não só das ondas como também sobre o seu posicionamento, o que acabou sendo o fator fundamental para a vitória.
Com bastante segurança, Jano escolheu as melhores ondas e fez o que tinha que ser feito. Com manobras absurdas, no ponto mais radical da onda, ele representou a nação e trouxe o título para o Brasil. E o primeiro WQS da sua carreira.
“ Hoje deu Brasil. Eu estou em casa, a torcida toda me apoiou, essa vibe é o mais importante.”
“ Esse ano eu me foquei mais no Super surf, e não priorizei muito o WQS. Foi a minha primeira final num WQS e obter essa vitória foi o máximo! Agora é ir pra Itamambuca e dar um gás, já pensando no ano que vem, em obter uma classificação melhor. Quem sabe sobra uma vaguinha pra eu correr o WCT, já que eu fui o terceiro no Super Surf. Ia ser uma realização.”
Direto da Praia Brava, com exclusividade para o Câmera Surf, Thaís Mureb.
Thaís Mureb é surfista, skatista e flamenguista, assim como o nosso campeão Jano Belo.
PS: Acredito muito na relevância deste PS devido ao enorme número de pingüins mortos encontrados às dezenas, durante toda a extensão da Praia Brava. Sabemos que a maioria dos pingüins que chegam até o Brasil não conseguem regressar e acabam morrendo, mas tratando-se de um problema endêmico, os órgãos responsáveis devem tomar algumas providências para a manutenção destas vidas, trabalho que já vem sendo realizado em alguns Estados, que devolvem os animais a seu habitat natural.
Fica aqui o apelo não só dos amantes do surf, mas como dos amigos da natureza, de uma maneira geral. Salvem os pingüins!
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