quarta-feira

Nova geração do surf nacional mostra sua força e Wiggolly Dantas é o Rei da Praia.


Wiggolly Dantas e Jádson André decidem o Onbongo Pró Surfing, mas Guigui mostra por que é dono do pico e da coroa de Rei de Itamambuca.


Wiggolly Dantas conhece a sua vala. Local de Ubatuba, ele deixa bem claro que a integração com o pico é fundamental para qualquer vitória. Detentor das três melhores ondas do campeonato, venceu Raoni Monteiro, Hizunomê Bettero e Jádson André, só neste domingo, nomes que com certeza fazem brilhar ainda mais a sua vitória.


Chegando à primeira final num WQS 6 estrelas, ele não desperdiçou a oportunidade.


“ Meu foco este ano inteiro foi pra ganhar esse campeonato. Eu treinei muito e consegui realizar meu sonho de ser campeão aqui. Quando você aprende a surfar num mar e você conhece o pico, vai pegar sempre as melhores ondas...é a vibe. Sempre quando eu chego de viagem, volto pra cá pra repôr as minhas energias e é isso que eu estou fazendo hoje. Repondo as minhas energias e realizando o sonho de ser campeão em casa, com a minha família toda junto... isso é muito bom.” fala Wigolly muito emocionado.


O domingo começou bem cedo, às 7:30. E a praia já estava cheia. A torcida não queria perder os confrontos de seus xodós, Wigolly Dantas e Hizunomê Bettero, que fizeram as duas primeiras baterias do dia.



Guigui enfrentava Raoni Monteiro, campeão da ASP South America 2008 e sabendo que não ia ser moleza já abriu com uma bela direita, comemorada pela torcida a cada manobra e que lhe rendeu 7,17.


Mas parou por aí. Durante toda a bateria Wiggolly não surfou mais nenhuma onda e Raoni dominou até os minutos finais, com 5 e 6,17.


O mar já não apresentava condições tão clássicas quanto no sábado, e as séries estavam bem mais esparsas.


Mas o pico é dele. E ele tem moral. Quando mais precisa, entram as séries. E ele consegue um 5,5 e vira a bateira sobre Raoni, que até tenta dar o troco, mas o mar para ele estava flat.


Mesmo com essa derrota Raoni obtém 1625 pontos, sobe cinco degraus no Ranking, pulando para 21ª colocação, e consegue trocar sua pior pontuação, 1050 pontos.


“ Eu sabia que não ia ser uma bateria fácil. O Raoni surfa muito e estava muito bem neste campeonato. Eu consegui pegar uma onda boa, mas não vinha mais nenhuma. Depois eu peguei uma ondinha, consegui virar, e não veio mais nenhuma também pro Raoni. Consegui passar pra semi final e to amarradão.”


O outro local, Hizunomê também levantou a galera e conseguiu passar por Thiago Camarão, numa bateria que entra para a história, não só pela grande batalha travada dentro d”água, mas por uma cena muito bonita, que quem viu não vai esquecer.


Thiago vinha liderando a bateria desde o começo, com uma onda muito boa, 7,83 e uma média, 5,9. Mas Hizu não se encaixava no pico, e talvez por nervosismo pela falta de ondas, procurava se posicionar melhor no pico, mas conseguiu apenas ondas fracas, a melhor era um 4,17. Precisava de 9,56. Nos últimos cinco minutos de bateria, o mar resolveu ajudar e Hizu pegou duas ondas muito fortes, com excelentes manobras e sobrando nas pancadas de backside. Conseguiu a virada em parcelas, um 7 e um 7,93. Camarão resolveu que a vitória era justa e ainda no mar, desceu da prancha, abraçou Hizunomê e desejou boa-sorte a ele, saindo da água amarradão com a vitória do amigo.


“ O Hizunomê é um grande amigo e está para entrar na elite do surf mundial, então se eu passasse eu ia ficar feliz por mim, mas se eu perdesse eu ia ficar feliz por ele. No final, eu aceitei que ia perder e fui cumprimentá-lo e foi muito legal por que eu senti a vibe... ele estava muito mais emocionado do que eu, se tivesse passado. Mas foi um campeonato muito legal pra mim. Cheguei nas quartas, rolaram boas ondas e eu estou surfando bem, numa fase boa. Esse ano eu não consegui obter resultados muito bons, mas eu estou surfando bem e isso é o que importa. Vou batalhar nos próximos campeonatos e ano que vem com certeza vai ser melhor.” fala Thiago Camarão que está com um surf muito solto e muito potente também, um dos grandes nomes deste campeonato.


Hizu vibrava por ter chegado à semi-final dentro de casa. E ainda enfrentando o também local Wigolly. Ele fala sobre a expectativa sobre sua entrada no WCT e sobre a potência do surf da cidade de Ubatuba.


“ Todo surfista profissional, independente da cidade que ele vem, quer entrar pro WCT. Aqui em Ubatuba já tivemos um atleta, o Tadeu Pereira, que infelizmente teve uma hérnia de disco na época e não pôde representar Ubatuba e o Brasil no WCT. Eu estou indo em busca do meu sonho e se Deus quiser tudo vai dar certo. Vou enfrentar o Wigolly, que é local também, conhece muito bem o pico, vai ser uma bateria bem disputada,vai ficar em casa. Mas sendo daqui ou não, quero ganhar e vou entrar pra ganhar.”


“ A bateria tava muito difícil não vinha onda e eu tava tentando um aéreo por que eu precisava de um high-score e veio uma direita, caí na junção, troquei de borda e abriu uma esquerda salvadora.”


Na bateria seguinte Léo “ Monster” Neves arruma as malas do gringo Josh Kerr, que vinha papando as baterias e despachando muita gente. Mas Léo não quis nem saber e o power-surf falou mais alto.


“ Bateria boa. O Josh Kerr é um cara que pode dar aéreos em qualquer onda, sabia que ia ser uma bateria muito difícil. Peguei as ondas intermediárias, tentei soltar meu surf, não deu pra dar aéreos, mas deu pra fazer um power-surf. Ele não conseguiu completar os aéreos, então ficou fácil pra mim.O mar tá bem difícil, tem pouca onda, mas pro estilo de surf dele tava bom, se ele se concentrasse em soltar um aéreo com certeza ia sair uma boa nota, mas acabou que não veio onda e ele ficou esperando, por que estava com a prioridade. Eu surfei duas ondas enquanto isso, que foram muito importantes. Passei e estou muito feliz.”


Em off Léo brincava com os amigos:


“ Deixar o gringo passar por cima de mim? Aqui em casa não. Bota esse gringo pra ralar...( risos...)”


Jádson André passou por Marcelo Trekinho com um surf de muita precisão. Apenas três ondas e todas elas com bons scores. Trekinho não conseguiu repetir a regularidade e Jádson passou por 12,66 a 8,93.


Jádson apesar da pouca idade é um dos melhores competidores em termos de estratégia, com um surf muito forte e de resultados, sempre usando a prioridade a seu favor e dificultando a vida dos outros surfistas.


“ Semi-final agora, já muito próximo de fazer minha primeira final num WQS seis estrelas. Falta mais uma bateria, contra o Léo Neves, que é um surfista muito forte, experiente, atleta do WCT e eu tenho que me concentrar muito para essa bateria, ver o que aconteceu nesta última para me focar e quem sabe chegar a final e vencer esta etapa.”


Na primeira semi-final, confronto de locais. Guigui Dantas contra Hizunomê Bettero, e a torcida parecia torcer para os dois. Doze minutos de bateria decorridos, nenhuma onda surfada e o head-judge já cogitando a possibilidade de reinício. Mas Wigolly abre a session com um 9, 57, mais uma onda ao seu estilo, surfada durante toda a sua extensão e ganhando força a cada manobra, mais potente que a anterior. Mesmo não conseguindo uma segunda onda boa (durante toda a bateria ele só pega mais uma, 2,67) Hizunomê não consegue tirar a diferença e faz 6 e 1,13. Vitória de Guigui, que deixa a água radiante com o resultado. Hizu, visivelmente triste não consegue nem falar e sai se lamentando muito.


“ Eu dei um gás o campeonato todo, estou em casa e me sentindo muito a vontade. Meu foco o ano todo foi este campeonato, e já estou na final. Vou ficar olhando a bateria agora, dois adversários muito fortes, surfando muito bem... Quem sabe eu não realizo meu sonho aqui em casa hoje? Estou muito focado e é bom todo mundo ficar de olho que vai sair um ubatubense campeão.” já previa Guigui.


Muito se comentou a respeito da eliminação de Hizunomê, já que ele tem chances claras de ingresso para o WCT 2009. Muitas pessoas achavam, inclusive que Wigolly deveria ter facilitado em nome de um objetivo maior. Não que Hizunomê precisasse. Seria mais como um empurrãozinho.


“ É muito difícil essa situação, por que eu sei que o Hizu está disputando vaga e eu fiquei pensando muito nisso dentro d'água. Mas eu estou disputando uma vaga com o Jádson André para o Mundial Pró Junior na Austrália, desejei a ele boa-sorte, mas que venceria quem estivesse melhor nestas condições de mar. Este é um momento de estar muito focado no que se quer.”
Na outra semi a nova geração confirma toda a sua potência e Jádson André não dá mole para Léo Neves e avança para a final, virando na última onda, onde ele manda três manobras animais e consegue 8,5. Jádson sai da água já comemorando muito com os amigos, que entravam no mar para o Air Show.


“ Tem que ter tranquilidade. Eu tinha a prioridade, faltando quatro minutos, e eu fiquei esperando. Veio a onda, eu sabia que era ela, consegui pegar e fazer a nota. Estou muito feliz por que é a minha primeira final num seis estrelas, a do Guigui também e a gente já compete junto desde a época de amador, desde as categorias iniciantes e agora estamos aí... fazendo uma final juntos, WQS seis estrelas, sem dúvida vai ser alucinante.”


E foi mesmo. Wigolly Dantas e Jádson André. Duas potências da nova geração, dois estilos de surf. Ganha o surf brasileiro, que mostra que esta geração está vindo, com Alejo Muniz, Franklin Serpa, Charlie Brown e muitos outros, com fome de títulos e quer ter, num futuro não muito distante, campeões mundiais.


Durante a primeira metade da bateria Jádson vence por uma diferença muito pequena. Tinha ondas 5,67 e 7,83 contra 5 e 7,5 de Guigui, que consegue 8,73 e vira a bateria. Bateria de poucas ondas, Guigui ainda faz um 0,57 e Jádson 0,77.


Dez segundos para o final. As séries riscam o horizonte. Jádson tem a prioridade, tem vontade e vira o bico pra remada, já na regressiva. Se o surfista tira a mão da borda da prancha antes da sirene a onda é válida, e quando termina a bateria, Jádson ainda solta duas manobras muito fortes, jogando água para todos os lados.


Ele já sai da água comemorando e pára na frente do palanque dos juízes aguardando a nota. Enquanto isso, Guigui comemora também, só que no outside, aguardando a liberação do resultado pra saber se vinha de jet-ski ou não, uma tradição para os campeões.


Sai a nota. Uma onda 7,23, que não é suficiente para que Jádson assuma a liderança. A praia vai ao delírio. E Guigui também. Vem carregado pelo jet-ski e chegando na areia é levantado pelos amigos que fazem aquela festa. Vitória de Guigui, vitória de Ubatuba, vitória do surf.


O campeão foi coroado, outra tradição, do Onbongo Pró Surfing, com toda pompa. Com direito a coroa e trono.


" Queria agradecer a Deus e a todo mundo que veio aqui ver o campeonato. Quero agradecer a minha família e aos meus patrocinadores também. Mas essa vitória é para duas pessoas daqui de Itamambuca, que é o Aranha, que está aqui entre a gente agora, e pro falecido Escatena, que a gente está junto com eles e a vitória é para os dois. Está todo mundo aqui junto e essa é a maior felicidade. Esse foi o meu esforço. Eu treinei muito pra esse campeonato e eu precisava dessa vitória neste momento. Um abraço a todo mundo que me apoiou e à galera de Ubatuba.”, discurso do Guigui de agradecimento em meio à lágrimas.


A cada campeonato uma conquista. O fim de mais um ciclo de uma semana. A conquista de um título que será sempre lembrado e de um reinado que dura até o próximo ano.



Direto de Itamambuca, com exclusividade para o CameraSurf, Thaís Mureb.

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