O único caminho é a profissionalização. E muitos surfistas ainda encontram dificuldades para se manter no Circuito.
Profissionalismo é a palavra. É a partir dela que surgirá o primeiro campeão mundial brasileiro. É a diferença fundamental hoje entre Adriano Mineirinho e outros surfistas que estão buscando o mesmo. A profissionalização dos atletas passa por diversas fases, que incluem o suporte financeiro mas que também englobam muitas outras questões.
Suporte psicológico é um dos principais fatores para o sucesso de um atleta. De qualquer esporte, em qualquer modalidade. A capacidade física acaba sendo mais ou menos nivelada entre os surfistas, que atualmente se preparam com diversos treinamentos, que incluem alongamento, natação, pilates e oficinas de equilíbrio. A parte tática também tem a sua vez, através de estudos de condições do mar e de desempenho dos atletas em cada bateria, através de filmagens e aconselhamentos técnicos.
Tudo isso requer muito investimento. E algumas empresas já enxergaram que este é o único caminho e hoje montam seus times, com managers cada vez mais competentes e que buscam a evolução do surfista a cada bateria, a cada competição.
No entanto, esse mercado é bastante restrito. É difícil para atletas que estão começando conseguirem esse tipo de patrocínio e o suporte só vem depois que o atleta consegue se destacar nos campeonatos. Só que nem todos conseguem arcar com estes custos. E muitas vezes nem conseguem chegar aos campeonatos.
Rafael Padilha que o diga. Surfista da cidade de Cabo Frio, já foi morar em Florianópolis para buscar um contato maior com as empresas. Mas após dois anos e meio teve que retornar, e ainda sem o apoio.
“ Eu fui morar em Floripa por conta própria, para tentar a sorte, por que as pessoas sempre me falaram que lá tem mais empresas, mais investimento, mas eu quebrei a cara. Fiquei dois anos e meio, cheguei a contactar várias empresas, mas as empresas priorizam surfistas de lá, então eu tive que voltar pra minha cidade, sem apoio e mais falido do que eu já estava, nem equipamento pra surfar, prancha, roupa de borracha, eu tinha mais.”
Mesmo assim ele não desanimou. Com apoio de familiares ele disputou a etapa final da Seletiva de Surf Petrobrás, em Saquarema e venceu uma bateria disputada contra Victor Ribas, atual 28º no Ranking da ASP South America e Dunga Neto, onde mostrou que a diferença entre os atletas não está no nível de surf apresentado.
Depois, no Oakley WQS Surf International, no Arpoador, Padilha venceu João Gutemberg e o campeão do WCT em Teahupoo, Bruno Santos, o que motiva o atleta cada vez mais a não desistir.
“ Ano passado eu fiquei bastante desmotivado, corri dois campeonatos e perdi logo de cara. Mas eu sempre tive o apoio de todo mundo na minha casa, e isso não me deixa desistir. Depois que eu venci essas baterias, minha auto-confiança aumentou bastante. Eu vi que dá pra chegar e eu vou fazer de tudo pra isso...eu vou chegar.”
Renato Galvão, que hoje é um atleta patrocinado, mas que já teve que abandonar o Circuito Mundial por falta de recursos reforça o coro, não esquecendo dos perrengues que passou e como é a sensação de entrar na água sabendo que tem que ganhar, não só pela pontuação e pelo Ranking, mas também por que se não vencer não terá condições de disputar outra etapa. No fim das contas, sem trocadilho, a tranqüilidade financeira é essencial para que o surf possa fluir da melhor maneira.
“ Eu comecei a competir o Circuito Mundial em 2004, mas tive que parar em 2007 por falta de patrocínio. Infelizmente não tem como correr o circuito mundial do próprio bolso, por que é uma grana muito alta e para ter o retorno deste investimento só se você for muito bem em todos os eventos, então eu tive que deixar de lado e me concentrei só nos campeonatos aqui no Brasil. Graças a Deus hoje eu tenho um patrocinador, que é a South to South, que me permite voltar a correr o Mundial.”
Galvão lembra ainda que todo atleta tem vida pessoal e que sendo o surf uma profissão como outra qualquer deve permitir a estabilidade do atleta.
“ É muito difícil ficar sem patrocínio por que a gente tem uma vida particular, além da competição, com gastos, contas e o material, as pranchas... É muito complicado. Tem que ter foco e se concentrar muito no que você quer. Espero que todos atletas tenham patrocínio logo, por que realmente é horrível essa situação.”
Renan Batalha é outro atleta que ainda está com o bico da prancha branco. Campeão do Circuito Catarinense Amador, o atleta disputou as duas últimas etapas do WQS e mostrou que ão deve nada aos profissionais. Só falta mesmo a estrutura.
Surfista da Praia Brava em Itajaí, no Maresias Surf International ele passou em primeiro numa bateria contra Diego Rosa, Felipe Martins e o chileno Manuel Selman.
Em Itamambuca, venceu Beto Mariano e Émerson Silva. Depois venceu o norte-americano Justin McBride e o local Alexandre Costinha.
“ Sem patrocínio é muito difícil disputar campeonatos. Você tem que fazer uma correria pra conseguir a grana e as vezes não consegue manter o ritmo.” fala Renan.
Outro exemplo absurdo é do carioca Jorge Spanner. Atleta de alto nível, só neste último WQS em Itamambuca venceu Yuri Sodré e Fabinho Gouveia. Fora os outros resultados em campeonatos expressivos como o Super Surf. O atleta, que tem um excelente manager, o Thiago, que também é manager de Léo Neves, Leandro Bastos e André Silva, é um destes casos sem a menor explicação para a falta de patrocínio.
Que é o caso de Bruno Moreira.
Não se sabe o porquê, já que em todos os campeonatos que disputa, seja Super Surf, Brasil Tour ou WQS o surfista sempre compete de igual para igual com Bruninho Santos, Leandro Bastos, ou quem quer que seja, e até mesmo os outros surfistas comentam sobre a excelente fase de Bruninho Moreira e do surf apresentado pelo atleta, sempre muito veloz e potente, com manobras muito fortes e arriscadas no ponto mais crítico da onda.
Por ser bem leve, Moreira pega uma velocidade absurda nas ondas e é sempre alucinante vê-lo surfando. No entanto, isso não se reflete em apoio e retorno pelo surf apresentado. O atleta segue sem patrocínio e se mantém nas competições graças aos bons resultados, que rendem boa premiação.
Luciano Bruller também não está com a vida fácil. No Onbongo Pró Surf, classificou-se para a final do Air Show, em meio a nomes como Hizunomê Bettero, Danilo Costa, Messias Félix, Genérik e Riquinho Wendhausen. O único com o bico da prancha ainda branco. O atleta fala de como é viver esta realidade e de como é sentir vergonha na hora das fotos, em meio a tantos atletas patrocinados.
“ Eu participo do Paulista Profissional, da divisão de acesso pro Super Surf, que é o Brasil Tour, e este ano eu tinha a chance, o último ano ano de correr o Pró Junior. Para eu ir aos campeonatos eu recebo muita ajuda dos meus amigos, que acreditam no meu potencial e dos meus pais. Eu também dou aula de surf às vezes com o meu pai, por que é um meio que eu tenho de juntar dinheiro para ir aos campeonatos, para tentar mostrar para a imprensa, para os meus adversários e até mesmo pro empresários que eu tenho potencial pra representar a marca deles. É difícil pra quem não tem quem faça indicação, quem não tem um bom empresário, por que dificilmente as empresas dão essa oportunidade. Quando a gente está sozinho tudo é mais difícil, tem que ser mais guerreiro... não que eu queira as coisas do jeito mais fácil, eu só quero ir para os campeonatos e mostrar os resultados, mas acontece que às vezes eu não tenho dinheiro nem para ir aos campeonatos. Quando um amigo te dá o dinheiro e diz que acredita em ti... e depois você não consegue um bom resultado, dá aquela tristeza, aquela pressão, de saber que a pessoa está tirando do bolso pra te dar... Fica a sensação de que você não fez por merecer... Mas também quando eu consigo um bom resultado, eu lembro de todo mundo que me ajudou... e posso agradecer a todos, que estão sempre ali, na praia, torcendo por mim... é muito legal isso.”
Além da falta de grana, a falta de patrocínio acaba interferindo no lado psicológico do atleta, que muitas vezes sabe que está no mesmo nível dos caras e não entende o por quê dessa falta de apoio.
E não são poucos atletas que passam por isso. Só em Itamambuca, neste último WQS, conheci dois, que com certeza eram para estar disputando campeonatos e soltando seus aéreos. Alex Cunha e Émerson Tikinho, são surfistas de alto desempenho, e que merecem oportunidade. A cada pico visitado, se percebe o desperdício de talentos que o Brasil está cometendo.
Itamar Guimarães, ex-competidor, atualmente trabalha como vídeo-maker em Santos, mas gostaria de retornar aos campeonatos.
“ Já corri o Brasil Tour, o Paulista e o Carioca Profissionais e parei pela falta de patrocínio e de incentivo também. As empresas preferem quem já tem nome, ao invés de investir em novos talentos. Eu tinha que trabalhar à noite, em bares, para poder usar o dinheiro para competir e às vezes já chegava cansado e perdia as baterias. Tive que abandonar os campeonatos e virei video-maker e free-surfer. Foi um jeito que eu arrumei de continuar trabalhando com surf e surfando também.”
E o que falar de Alcione Silva, que há anos procura patrocínio, mas parece que para algumas empresas, além do surf, tem que ter o padrão loirinha-de-olhos-azuis. Mas o surf de Alcione Silva não é surf de modinha. É surf de potência.
É fato que se houvesse um maior garimpo, uma maior preocupação das marcas em buscar esses novos talentos, o Brasil seria a grande potência do surf mundial, por que a cada praia, a cada pico, por todo o litoral, existem milhares de pessoas apaixonadas pelo esporte.
Crianças, senhoras, famílias inteiras que se dedicam ao surf, e que fazem do surf a paixão do litoral brasileiro, mais até que o futebol.
O Brasil é o segundo maior mercado consumidor de surfwear do mundo, só perde para a Austrália, mas algumas empresas ainda hoje acham que podem pagar os surfistas com roupas e equipamentos e não fornecem a menor estrutura, e sem essa base, um surfista nunca será campeão mundial.
Deveriam sim, investir mais nos nossos atletas, investir em profissionalização, em preparação física e psicológica, desenvolver o atleta em toda sua plenitude. Mas parece que é mais importante ter meninas saradas distribuindo brindes em campeonatos.
Se estas empresas não tiverem esta consciência profissional, em pouco tempo o mercado consumidor fará o mesmo que atualmente faz com empresas que não são amigas da natureza e passarão a boicotar seus produtos e a associá-las a um marketing negativo.
Empresas: incentivem seus atletas, deêm estrutura a nossos surfistas. Saibam que tem muitos talentos escondidos em cada vila e em cada praia do Brasil. Existem muitas maneiras de se obter retorno para este investimento além do uso da imagem de “atletas-modelos”. Profissionalização é o único caminho para chegar ao título mundial.
Consumidores: fiquem atentos. Comprem e usem marcas que realmente incentivem nossos atletas, que tenham realmente uma preocupação com o surf e com o meio- ambiente.
Atletas: não desanimem. Nunca. Tem muita gente que acredita no surf de vocês e que vai trabalhar para que o dia chegue. Surf, sempre!
Com exclusividade para o Câmera Surf, Thaís Mureb.
Thaís Mureb é formanda em Relações Internacionais e luta pelo patrocínio dos atletas e pela profissionalização do surf brasileiro.
Profissionalismo é a palavra. É a partir dela que surgirá o primeiro campeão mundial brasileiro. É a diferença fundamental hoje entre Adriano Mineirinho e outros surfistas que estão buscando o mesmo. A profissionalização dos atletas passa por diversas fases, que incluem o suporte financeiro mas que também englobam muitas outras questões.
Suporte psicológico é um dos principais fatores para o sucesso de um atleta. De qualquer esporte, em qualquer modalidade. A capacidade física acaba sendo mais ou menos nivelada entre os surfistas, que atualmente se preparam com diversos treinamentos, que incluem alongamento, natação, pilates e oficinas de equilíbrio. A parte tática também tem a sua vez, através de estudos de condições do mar e de desempenho dos atletas em cada bateria, através de filmagens e aconselhamentos técnicos.
Tudo isso requer muito investimento. E algumas empresas já enxergaram que este é o único caminho e hoje montam seus times, com managers cada vez mais competentes e que buscam a evolução do surfista a cada bateria, a cada competição.
No entanto, esse mercado é bastante restrito. É difícil para atletas que estão começando conseguirem esse tipo de patrocínio e o suporte só vem depois que o atleta consegue se destacar nos campeonatos. Só que nem todos conseguem arcar com estes custos. E muitas vezes nem conseguem chegar aos campeonatos.
Rafael Padilha que o diga. Surfista da cidade de Cabo Frio, já foi morar em Florianópolis para buscar um contato maior com as empresas. Mas após dois anos e meio teve que retornar, e ainda sem o apoio.
“ Eu fui morar em Floripa por conta própria, para tentar a sorte, por que as pessoas sempre me falaram que lá tem mais empresas, mais investimento, mas eu quebrei a cara. Fiquei dois anos e meio, cheguei a contactar várias empresas, mas as empresas priorizam surfistas de lá, então eu tive que voltar pra minha cidade, sem apoio e mais falido do que eu já estava, nem equipamento pra surfar, prancha, roupa de borracha, eu tinha mais.”
Mesmo assim ele não desanimou. Com apoio de familiares ele disputou a etapa final da Seletiva de Surf Petrobrás, em Saquarema e venceu uma bateria disputada contra Victor Ribas, atual 28º no Ranking da ASP South America e Dunga Neto, onde mostrou que a diferença entre os atletas não está no nível de surf apresentado.
Depois, no Oakley WQS Surf International, no Arpoador, Padilha venceu João Gutemberg e o campeão do WCT em Teahupoo, Bruno Santos, o que motiva o atleta cada vez mais a não desistir.
“ Ano passado eu fiquei bastante desmotivado, corri dois campeonatos e perdi logo de cara. Mas eu sempre tive o apoio de todo mundo na minha casa, e isso não me deixa desistir. Depois que eu venci essas baterias, minha auto-confiança aumentou bastante. Eu vi que dá pra chegar e eu vou fazer de tudo pra isso...eu vou chegar.”
Renato Galvão, que hoje é um atleta patrocinado, mas que já teve que abandonar o Circuito Mundial por falta de recursos reforça o coro, não esquecendo dos perrengues que passou e como é a sensação de entrar na água sabendo que tem que ganhar, não só pela pontuação e pelo Ranking, mas também por que se não vencer não terá condições de disputar outra etapa. No fim das contas, sem trocadilho, a tranqüilidade financeira é essencial para que o surf possa fluir da melhor maneira.
“ Eu comecei a competir o Circuito Mundial em 2004, mas tive que parar em 2007 por falta de patrocínio. Infelizmente não tem como correr o circuito mundial do próprio bolso, por que é uma grana muito alta e para ter o retorno deste investimento só se você for muito bem em todos os eventos, então eu tive que deixar de lado e me concentrei só nos campeonatos aqui no Brasil. Graças a Deus hoje eu tenho um patrocinador, que é a South to South, que me permite voltar a correr o Mundial.”
Galvão lembra ainda que todo atleta tem vida pessoal e que sendo o surf uma profissão como outra qualquer deve permitir a estabilidade do atleta.
“ É muito difícil ficar sem patrocínio por que a gente tem uma vida particular, além da competição, com gastos, contas e o material, as pranchas... É muito complicado. Tem que ter foco e se concentrar muito no que você quer. Espero que todos atletas tenham patrocínio logo, por que realmente é horrível essa situação.”
Renan Batalha é outro atleta que ainda está com o bico da prancha branco. Campeão do Circuito Catarinense Amador, o atleta disputou as duas últimas etapas do WQS e mostrou que ão deve nada aos profissionais. Só falta mesmo a estrutura.
Surfista da Praia Brava em Itajaí, no Maresias Surf International ele passou em primeiro numa bateria contra Diego Rosa, Felipe Martins e o chileno Manuel Selman.
Em Itamambuca, venceu Beto Mariano e Émerson Silva. Depois venceu o norte-americano Justin McBride e o local Alexandre Costinha.
“ Sem patrocínio é muito difícil disputar campeonatos. Você tem que fazer uma correria pra conseguir a grana e as vezes não consegue manter o ritmo.” fala Renan.
Outro exemplo absurdo é do carioca Jorge Spanner. Atleta de alto nível, só neste último WQS em Itamambuca venceu Yuri Sodré e Fabinho Gouveia. Fora os outros resultados em campeonatos expressivos como o Super Surf. O atleta, que tem um excelente manager, o Thiago, que também é manager de Léo Neves, Leandro Bastos e André Silva, é um destes casos sem a menor explicação para a falta de patrocínio.
Que é o caso de Bruno Moreira.
Não se sabe o porquê, já que em todos os campeonatos que disputa, seja Super Surf, Brasil Tour ou WQS o surfista sempre compete de igual para igual com Bruninho Santos, Leandro Bastos, ou quem quer que seja, e até mesmo os outros surfistas comentam sobre a excelente fase de Bruninho Moreira e do surf apresentado pelo atleta, sempre muito veloz e potente, com manobras muito fortes e arriscadas no ponto mais crítico da onda.
Por ser bem leve, Moreira pega uma velocidade absurda nas ondas e é sempre alucinante vê-lo surfando. No entanto, isso não se reflete em apoio e retorno pelo surf apresentado. O atleta segue sem patrocínio e se mantém nas competições graças aos bons resultados, que rendem boa premiação.
Luciano Bruller também não está com a vida fácil. No Onbongo Pró Surf, classificou-se para a final do Air Show, em meio a nomes como Hizunomê Bettero, Danilo Costa, Messias Félix, Genérik e Riquinho Wendhausen. O único com o bico da prancha ainda branco. O atleta fala de como é viver esta realidade e de como é sentir vergonha na hora das fotos, em meio a tantos atletas patrocinados.
“ Eu participo do Paulista Profissional, da divisão de acesso pro Super Surf, que é o Brasil Tour, e este ano eu tinha a chance, o último ano ano de correr o Pró Junior. Para eu ir aos campeonatos eu recebo muita ajuda dos meus amigos, que acreditam no meu potencial e dos meus pais. Eu também dou aula de surf às vezes com o meu pai, por que é um meio que eu tenho de juntar dinheiro para ir aos campeonatos, para tentar mostrar para a imprensa, para os meus adversários e até mesmo pro empresários que eu tenho potencial pra representar a marca deles. É difícil pra quem não tem quem faça indicação, quem não tem um bom empresário, por que dificilmente as empresas dão essa oportunidade. Quando a gente está sozinho tudo é mais difícil, tem que ser mais guerreiro... não que eu queira as coisas do jeito mais fácil, eu só quero ir para os campeonatos e mostrar os resultados, mas acontece que às vezes eu não tenho dinheiro nem para ir aos campeonatos. Quando um amigo te dá o dinheiro e diz que acredita em ti... e depois você não consegue um bom resultado, dá aquela tristeza, aquela pressão, de saber que a pessoa está tirando do bolso pra te dar... Fica a sensação de que você não fez por merecer... Mas também quando eu consigo um bom resultado, eu lembro de todo mundo que me ajudou... e posso agradecer a todos, que estão sempre ali, na praia, torcendo por mim... é muito legal isso.”
Além da falta de grana, a falta de patrocínio acaba interferindo no lado psicológico do atleta, que muitas vezes sabe que está no mesmo nível dos caras e não entende o por quê dessa falta de apoio.
E não são poucos atletas que passam por isso. Só em Itamambuca, neste último WQS, conheci dois, que com certeza eram para estar disputando campeonatos e soltando seus aéreos. Alex Cunha e Émerson Tikinho, são surfistas de alto desempenho, e que merecem oportunidade. A cada pico visitado, se percebe o desperdício de talentos que o Brasil está cometendo.
Itamar Guimarães, ex-competidor, atualmente trabalha como vídeo-maker em Santos, mas gostaria de retornar aos campeonatos.
“ Já corri o Brasil Tour, o Paulista e o Carioca Profissionais e parei pela falta de patrocínio e de incentivo também. As empresas preferem quem já tem nome, ao invés de investir em novos talentos. Eu tinha que trabalhar à noite, em bares, para poder usar o dinheiro para competir e às vezes já chegava cansado e perdia as baterias. Tive que abandonar os campeonatos e virei video-maker e free-surfer. Foi um jeito que eu arrumei de continuar trabalhando com surf e surfando também.”
E o que falar de Alcione Silva, que há anos procura patrocínio, mas parece que para algumas empresas, além do surf, tem que ter o padrão loirinha-de-olhos-azuis. Mas o surf de Alcione Silva não é surf de modinha. É surf de potência.
É fato que se houvesse um maior garimpo, uma maior preocupação das marcas em buscar esses novos talentos, o Brasil seria a grande potência do surf mundial, por que a cada praia, a cada pico, por todo o litoral, existem milhares de pessoas apaixonadas pelo esporte.
Crianças, senhoras, famílias inteiras que se dedicam ao surf, e que fazem do surf a paixão do litoral brasileiro, mais até que o futebol.
O Brasil é o segundo maior mercado consumidor de surfwear do mundo, só perde para a Austrália, mas algumas empresas ainda hoje acham que podem pagar os surfistas com roupas e equipamentos e não fornecem a menor estrutura, e sem essa base, um surfista nunca será campeão mundial.
Deveriam sim, investir mais nos nossos atletas, investir em profissionalização, em preparação física e psicológica, desenvolver o atleta em toda sua plenitude. Mas parece que é mais importante ter meninas saradas distribuindo brindes em campeonatos.
Se estas empresas não tiverem esta consciência profissional, em pouco tempo o mercado consumidor fará o mesmo que atualmente faz com empresas que não são amigas da natureza e passarão a boicotar seus produtos e a associá-las a um marketing negativo.
Empresas: incentivem seus atletas, deêm estrutura a nossos surfistas. Saibam que tem muitos talentos escondidos em cada vila e em cada praia do Brasil. Existem muitas maneiras de se obter retorno para este investimento além do uso da imagem de “atletas-modelos”. Profissionalização é o único caminho para chegar ao título mundial.
Consumidores: fiquem atentos. Comprem e usem marcas que realmente incentivem nossos atletas, que tenham realmente uma preocupação com o surf e com o meio- ambiente.
Atletas: não desanimem. Nunca. Tem muita gente que acredita no surf de vocês e que vai trabalhar para que o dia chegue. Surf, sempre!
Com exclusividade para o Câmera Surf, Thaís Mureb.
Thaís Mureb é formanda em Relações Internacionais e luta pelo patrocínio dos atletas e pela profissionalização do surf brasileiro.
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